Este texto foi escrito para a
sessão de depoimentos do site Hanami www.partodomiciliar.com
,
sobre parto humanizado onde mamães e papais relatam suas experiências. Fui
convidado a participar e escrevi alguns dias após o nascimento da minha filha
Pietra e traduz como aconteceu esse maravilhoso evento que mudou nossas vidas e
o relato também mata a curiosidade de como acontece um “Parto Humanizado Domiciliar”.
Depoimento do Charles Papai da Pietra
Bom, não é uma tarefa fácil falar da experiência emocionante que
foi a gestação da Pietra, o amor que foi amplificado entre eu e minha esposa Ana Paula, com a gestação
desse bebê que fechou um elo de energia perfeito que nos uniu ainda mas como
casal.
Vou começar do começo. Lá vem a Ana toda apavorada com um teste
de farmácia acusando positivo, “e agora?” Diz ela. “Agora vamos criar!”
No início da gestação começamos
o acompanhamento pelo SUS, com um médico péssimo que fazia pouco caso de nossas
dúvidas e respondia de forma bem duvidosa e mal humorada. Aí passamos para um
ótimo médico particular que nos passou bem mais segurança e respostas as nossas
várias dúvidas. Através da Thalia, uma amiga da Ana, ficamos sabendo do parto
na água e entramos em contato com o grupo Hanami. Fomos a um consultão e
conhecemos as amáveis Hanamigas, (como são chamadas as enfermeiras) que deram
uma aula sobre parto humanizado, que nós curtimos muito. Bom, agora era só
esperar a Pietra amadurecer.
Alimentação saudável,
caminhadas, exercícios e muito amor, foram passando as semanas até a 37ª quando
aconteceu a primeira visita em nossa casa e tivemos a oportunidade de conhecer
pessoalmente a Vânia, que as meninas da Hanami já haviam falado tanto e
entendemos o porquê. Uma pessoa maravilhosa, iluminada, com carisma enorme como
todas as outras Hanamigas. Estou para ver um grupo de trabalho com tanta
afinidade e objetivos focados. Os dias foram passando e as visitas acontecendo
semanalmente. Fomos conhecendo a cada semana duas das Hanamigas e nos
apaixonando por cada uma delas. Se achamos nosso médico excelente, achamos as
Hanamigas maravilhosas, cada uma no seu estilo, a Renata toda delicada,
metódica e super informada, A Iara super espontânea, elétrica, divertida e
sempre com dicas fantásticas, a Joyce muito figura e com um profissionalismo
exemplar, a Jacque muito amável. O impressionante é que mesmo com a enxurrada
de perguntas que fazíamos e das dicas importantíssimas que elas nos brindavam
sempre tinha um detalhezinho que elas acrescentavam, e a Jacque é muito boa
nisso. A Mayra, a caçulinha do grupo, sempre com um brilho radiante, a
empolgação da juventude e a maturidade profissional que o grupo tem como cartão
de visita. E a Vania... Quando falei com ela a primeira vez tive certeza que
daria tudo certo com o parto da Ana e que ela era a pessoa certa pra isso.
Brincando, eu a apelidei de “oráculo”, pois com ela não há pergunta sem
resposta. O grupo reflete muito a índole dela, o que é um grande elogio.
Ciência, astrologia, misticismo e humanidade resume o trabalho dessas anjinhas.
Dia 04/09/09 às 16:30 horas era
o pico mais forte da mudança de lua, lua cheia. Ao contrário do que nosso
médico pensava e, até ridicularizou nosso comentário de que estávamos esperando
a Pietra para a mudança de lua, exatamente as 16:30 começaram fortes contrações
e continuas. Às 17:30 dava contrações fortes e a Ana tinha que correr para o
banheiro para fazer xixi, mais logo percebeu que não era bem xixi! Ligamos para
Iara e ela, fazendo festa, já gritou: “parabéns amiga tua bolsa estourou,
estamos indo para aí”. O que rolou é que a cabeça da Pietra já tinha passado um
pouco do quadril da Ana, e quando contraia, o bebê subia e a água vazava,
depois ela baixava e a cabecinha virava uma rolha. Até então nós imaginávamos
que quando estourasse a bolsa alagaria a casa!
Trânsito caótico, obras na
pista e a distância de mais de 100 quilômetros entre Floripa e Itajaí. As
“Super Hanamigas” chegaram,e eu vendo angustiado, a Ana ter terríveis
contrações sem poder fazer muito para amenizar a situação, apenas abraçando
para tentar absorver um pouco da dor e lhe falando palavras de motivação. Para
minha surpresa a Ana se mostrou uma guerreira, sem reclamar e nem mesmo falar,
só concentrada em seu corpo e no cosmos. Para uma pessoa que desmaiava toda vez
que ia tomar injeção foi uma evolução astronômica.
HANAMIGAS EM AÇÃO – O Franco
Trabalho de Parto
A Vania subiu para o quarto com a Ana para avaliá-la, já estava com 5 cm de
dilatação, botou um pouco de Rescue, um floral natural que estimula as
contrações e logo a dilatação, e colocou um aparelhinho com descargas elétricas
chamado Tens, o que aliviou bastante o desconforto das contrações e lá embaixo a
Rê e a Iara montavam toda a estrutura, uma infinidade de aparelhos, oxigênio,
itens de segurança e encher a piscina, aquecer água, tudo bem rapidinho; Dei
uma força e depois subi para ficar com a minha esposa Ana, nesse meio tempo a
Angela chegou também. 30 minutos depois vem a Vânia reavaliar a Ana - 8 cm de
dilatação, já tem Pietra querendo pintar na área. Descemos. A Iara deu um super
abraço na Ana e arrumou o cabelo dela com muito carinho. A Ana foi pra piscina
onde comentou que o relaxamento e alívio das dores foi fenomenal e eu atrás
dela igual treinador de lutador, no corner, falando palavras de motivação,
massageando, jogando água nela, dando uns beijinhos, um alongamentozinho nos
braços e, dali contrações, cada vez mais fortes, e as Hanas assistindo e
verificando o coraçãozinho da Pietra. Elas nos deixaram muito a vontade,
deixando a natureza fazer sua parte. O fato de estarmos no meio da sala da
nossa própria casa nos deixava ainda mais tranqüilos, e com quatro enfermeiras
obstetras super profissionais e com especialização no Japão onde esta prática é
mais comum. Pesquisamos bastante e só sabíamos que no hospital da nossa cidade
pelo SUS não ia dar, na época havia uma bactéria hospitalar bem na ala da
maternidade e na época 3 bebês haviam falecidos por conta de infecção
hospitalar, e pra piorar um mês antes da Pietra nascer, uma conhecida minha foi
ter o bebê nessa maternidade e o medico acabou machucando o neném no parto, a
cabecinha e o ombrinho que ficou em observação mas faleceu uma semana após o
parto, a dor dos pais me comoveu muito e relataram que na sala de recuperação
que sua filhinha havia ficado tinha mais duas crianças na mesma situação, uma
com o quadril machucado e outra com o braço, isso nos assustou muito e aumentou nossa desconfiança com o serviço publico.
O NASCIMENTO DA PIETRA – O
Momento mais Emocionante da Minha Vida
Durante o trabalho de parto botei umas músicas de sons da natureza, no começo
eram uns trovões e botei muito alto, aí diz a Rê: “ui Charles, estais
assustando a gente”, e realmente naquele momento estava meio tenso. Ela baixou
o volume, passou um tempo, e o curioso é que ela mesma foi lá e aumentou quando
começou um barulho de cachoeira, que foi dando um clima. Depois disso entrou
uma música linda, com o canto dos golfinhos, as Hanamigas se iluminaram todas,
porque os golfinhos são os únicos mamíferos, além de nós, que no parto
participa a mãe, o pai e uma parteira. Interessante! Bom, aí o cosmos se abriu,
começou a enviar uns raios de luz (tem foto e tudo, heheh), o clima ficou
flutuante, me abracei forte a Ana e me desliguei desse plano, entramos na
partolândia, éramos um só, eu a Ana e a Pietra, juntos no momento mais mágico de
nossas vidas. Vi que as meninas estavam com um sorriso no rosto enquanto
direcionavam um foco de luz na Ana. Fiquei curioso e fui espiar e já dava para
ver um pedacinho do cabelo da Pietra, ai me arrepiei e já fugiu umas
lágrimazinhas, pois caiu a ficha que a pequena estava chegando. Abracei a Ana e
disse: “tá quase acabando, já vi o cabelinho da Pietra, logo vamos poder ver o
rostinho dela que a gente tanto imaginou”, a Ana sorriu e se encheu de
motivação para acabar o serviço, e a Pietra começou a vir com força total. O
topo da cabecinha começou a aparecer e as Hanas já colocaram os aventais rosa e
as luvas. Olhei elas paradas ali e comentei que pareciam uns anjos, que diziam
para a Ana forçar na contração e depois aliviar para não romper o períneo, balançando
o quadril em seguida pra Pietra voltar pra dentro. E foram várias vezes. Aí a
Iara perguntou se eu estava com sede, pensei, e fui tomar água, ai percebi que
queria ir no banheiro e estava lá fazendo o número 1 quando a Ana teve uma
baita contração e quase que a pequena veio. Saí apressado e elas falaram que
quase saiu, depois falando com a Iara a gente riu porque se fosse o número 2
tinha dado merda (kkkk), ia perder o parto da minha filha. Mas voltando. Mais
uma contração e a cabeça saiu quase toda, fui espiar e falei pra Ana: “quase vi
o rostinho dela.” Aí a Pietra não quis mais entrar. A Ana ficou bem de cócoras
e tomou as rédeas. Ficamos assistindo a pitoca sair deslizando (às 00:54 horas
de 05/09/2009), deu um mergulho, e a Vânia disse: “pega ela”. A Ana pegou
direitinho e trouxe pro colo aquele pedacinho de nós toda coberta de vérnix,
uma espécie de super hipogloss natural; aí ela abriu os olhinhos, olhou pra
Ana, olhou pra mim, fez um beicinho e soltou o verbo, sem palavras pra descrever
esse momento. Eu, 32 anos, filho caçula, contato nenhum com criança, nunca tive
muita afinidade e tinha medo de segurar filhos dos outros, ali parado olhando
aquele bebezinho lindo, tão frágil. Muita emoção, muitas lágrimas, não vou
esquecer nunca esse momento e a cara emocionada das Hanamigas. Ficamos
namorando a Pietra um pouco na água, depois a Ana saiu da piscina sozinha super
bem, foi dar o primeiro mama, enquanto esperávamos o cordão parar de pulsar e a
placenta sair e eu que cortei o cordão umbilical.
Mais tarde a Rê me deu abraço
e disse: “você foi maravilhoso”, e eu até então nem tinha me dado conta da
importância da minha participação no parto da Pietra.
“Machismo a parte,
descobri que homem também pode parir, e foi fantástico!”
Me responda, onde você contrata
um parto particular que te oferece 4 consultas pré-parto em seu domicílio, que
começavam as 9:30 da manhã e acabavam 15 pro meio dia tomando um café na maior
descontração, com pessoas amáveis, super interessadas na nossa integridade
física e mental, dando todo o suporte imaginável? Nós pesquisamos e só
encontramos preços abusivos e técnicas evasivas, práticas e rápidas para a
equipe médica, mas para mãe e pro bebê nada. Para os defensores da cesária, que
não foram poucos nesses 9 meses, só tenho a dizer: “foi parto natural, na água
quentinha, em casa e com períneo íntegro.
Nos primeiros exames a Pietra
tirou nota máxima, 10, uma criança calma, super esperta, ativa, mas tranquila,
gerada e parida com muito amor e informação.
CRÉDITOS FINAIS – Frescura de
Pai Babão
Décimo segundo dia (hoje) acordei com uma dor esquisita no umbigo, até pensei:
será que tem haver com o umbiguinho da Pietra, acho que não, é viagem! Aí a
tarde fomos dar banho nela e o umbiguinho tava quase, quase caindo, e durante o
banho descolou com uma cicatrização perfeita. Viagem ou não, sei que rolou!
Vou terminando por aqui meu livro, que parece até um diário de bordo, mas é uma
experiência que vale ser contada, e assim, não tem dinheiro no mundo que pague
essa vivência.
“Viva
ao parto domiciliar planejado e humanizado”
Charles Storino