quarta-feira, 18 de julho de 2012

Parto natural na água em casa - Depoimento do Charles Papai da Pietra


Este texto foi escrito para a sessão de depoimentos do site Hanami  www.partodomiciliar.com , sobre parto humanizado onde mamães e papais relatam suas experiências. Fui convidado a participar e escrevi alguns dias após o nascimento da minha filha Pietra e traduz como aconteceu esse maravilhoso evento que mudou nossas vidas e o relato também mata a curiosidade de como acontece um “Parto Humanizado Domiciliar”.
Depoimento do Charles Papai da Pietra
Bom, não é uma tarefa fácil falar da experiência emocionante que foi a gestação da Pietra, o amor que foi amplificado entre eu  e minha esposa Ana Paula, com a gestação desse bebê que fechou um elo de energia perfeito que nos uniu ainda mas como casal.
Vou começar do começo. Lá vem a Ana toda apavorada com um teste de farmácia acusando positivo, “e agora?” Diz ela. “Agora vamos criar!”
No início da gestação começamos o acompanhamento pelo SUS, com um médico péssimo que fazia pouco caso de nossas dúvidas e respondia de forma bem duvidosa e mal humorada. Aí passamos para um ótimo médico particular que nos passou bem mais segurança e respostas as nossas várias dúvidas. Através da Thalia, uma amiga da Ana, ficamos sabendo do parto na água e entramos em contato com o grupo Hanami. Fomos a um consultão e conhecemos as amáveis Hanamigas, (como são chamadas as enfermeiras) que deram uma aula sobre parto humanizado, que nós curtimos muito. Bom, agora era só esperar a Pietra amadurecer.

Alimentação saudável, caminhadas, exercícios e muito amor, foram passando as semanas até a 37ª quando aconteceu a primeira visita em nossa casa e tivemos a oportunidade de conhecer pessoalmente a Vânia, que as meninas da Hanami já haviam falado tanto e entendemos o porquê. Uma pessoa maravilhosa, iluminada, com carisma enorme como todas as outras Hanamigas. Estou para ver um grupo de trabalho com tanta afinidade e objetivos focados. Os dias foram passando e as visitas acontecendo semanalmente. Fomos conhecendo a cada semana duas das Hanamigas e nos apaixonando por cada uma delas. Se achamos nosso médico excelente, achamos as Hanamigas maravilhosas, cada uma no seu estilo, a Renata toda delicada, metódica e super informada, A Iara super espontânea, elétrica, divertida e sempre com dicas fantásticas, a Joyce muito figura e com um profissionalismo exemplar, a Jacque muito amável. O impressionante é que mesmo com a enxurrada de perguntas que fazíamos e das dicas importantíssimas que elas nos brindavam sempre tinha um detalhezinho que elas acrescentavam, e a Jacque é muito boa nisso. A Mayra, a caçulinha do grupo, sempre com um brilho radiante, a empolgação da juventude e a maturidade profissional que o grupo tem como cartão de visita. E a Vania... Quando falei com ela a primeira vez tive certeza que daria tudo certo com o parto da Ana e que ela era a pessoa certa pra isso. Brincando, eu a apelidei de “oráculo”, pois com ela não há pergunta sem resposta. O grupo reflete muito a índole dela, o que é um grande elogio. Ciência, astrologia, misticismo e humanidade resume o trabalho dessas anjinhas.
Dia 04/09/09 às 16:30 horas era o pico mais forte da mudança de lua, lua cheia. Ao contrário do que nosso médico pensava e, até ridicularizou nosso comentário de que estávamos esperando a Pietra para a mudança de lua, exatamente as 16:30 começaram fortes contrações e continuas. Às 17:30 dava contrações fortes e a Ana tinha que correr para o banheiro para fazer xixi, mais logo percebeu que não era bem xixi! Ligamos para Iara e ela, fazendo festa, já gritou: “parabéns amiga tua bolsa estourou, estamos indo para aí”. O que rolou é que a cabeça da Pietra já tinha passado um pouco do quadril da Ana, e quando contraia, o bebê subia e a água vazava, depois ela baixava e a cabecinha virava uma rolha. Até então nós imaginávamos que quando estourasse a bolsa alagaria a casa!
Trânsito caótico, obras na pista e a distância de mais de 100 quilômetros entre Floripa e Itajaí. As “Super Hanamigas” chegaram,e eu vendo angustiado, a Ana ter terríveis contrações sem poder fazer muito para amenizar a situação, apenas abraçando para tentar absorver um pouco da dor e lhe falando palavras de motivação. Para minha surpresa a Ana se mostrou uma guerreira, sem reclamar e nem mesmo falar, só concentrada em seu corpo e no cosmos. Para uma pessoa que desmaiava toda vez que ia tomar injeção foi uma evolução astronômica.

HANAMIGAS EM AÇÃO – O Franco Trabalho de Parto
A Vania subiu para o quarto com a Ana para avaliá-la, já estava com 5 cm de dilatação, botou um pouco de Rescue, um floral natural que estimula as contrações e logo a dilatação, e colocou um aparelhinho com descargas elétricas chamado Tens, o que aliviou bastante o desconforto das contrações e lá embaixo a Rê e a Iara montavam toda a estrutura, uma infinidade de aparelhos, oxigênio, itens de segurança e encher a piscina, aquecer água, tudo bem rapidinho; Dei uma força e depois subi para ficar com a minha esposa Ana, nesse meio tempo a Angela chegou também. 30 minutos depois vem a Vânia reavaliar a Ana - 8 cm de dilatação, já tem Pietra querendo pintar na área. Descemos. A Iara deu um super abraço na Ana e arrumou o cabelo dela com muito carinho. A Ana foi pra piscina onde comentou que o relaxamento e alívio das dores foi fenomenal e eu atrás dela igual treinador de lutador, no corner, falando palavras de motivação, massageando, jogando água nela, dando uns beijinhos, um alongamentozinho nos braços e, dali contrações, cada vez mais fortes, e as Hanas assistindo e verificando o coraçãozinho da Pietra. Elas nos deixaram muito a vontade, deixando a natureza fazer sua parte. O fato de estarmos no meio da sala da nossa própria casa nos deixava ainda mais tranqüilos, e com quatro enfermeiras obstetras super profissionais e com especialização no Japão onde esta prática é mais comum. Pesquisamos bastante e só sabíamos que no hospital da nossa cidade pelo SUS não ia dar, na época havia uma bactéria hospitalar bem na ala da maternidade e na época 3 bebês haviam falecidos por conta de infecção hospitalar, e pra piorar um mês antes da Pietra nascer, uma conhecida minha foi ter o bebê nessa maternidade e o medico acabou machucando o neném no parto, a cabecinha e o ombrinho que ficou em observação mas faleceu uma semana após o parto, a dor dos pais me comoveu muito e relataram que na sala de recuperação que sua filhinha havia ficado tinha mais duas crianças na mesma situação, uma com o quadril machucado e outra com o braço, isso nos assustou muito e aumentou nossa desconfiança com o serviço publico. 

O NASCIMENTO DA PIETRA – O Momento mais Emocionante da Minha Vida
Durante o trabalho de parto botei umas músicas de sons da natureza, no começo eram uns trovões e botei muito alto, aí diz a Rê: “ui Charles, estais assustando a gente”, e realmente naquele momento estava meio tenso. Ela baixou o volume, passou um tempo, e o curioso é que ela mesma foi lá e aumentou quando começou um barulho de cachoeira, que foi dando um clima. Depois disso entrou uma música linda, com o canto dos golfinhos, as Hanamigas se iluminaram todas, porque os golfinhos são os únicos mamíferos, além de nós, que no parto participa a mãe, o pai e uma parteira. Interessante! Bom, aí o cosmos se abriu, começou a enviar uns raios de luz (tem foto e tudo, heheh), o clima ficou flutuante, me abracei forte a Ana e me desliguei desse plano, entramos na partolândia, éramos um só, eu a Ana e a Pietra, juntos no momento mais mágico de nossas vidas. Vi que as meninas estavam com um sorriso no rosto enquanto direcionavam um foco de luz na Ana. Fiquei curioso e fui espiar e já dava para ver um pedacinho do cabelo da Pietra, ai me arrepiei e já fugiu umas lágrimazinhas, pois caiu a ficha que a pequena estava chegando. Abracei a Ana e disse: “tá quase acabando, já vi o cabelinho da Pietra, logo vamos poder ver o rostinho dela que a gente tanto imaginou”, a Ana sorriu e se encheu de motivação para acabar o serviço, e a Pietra começou a vir com força total. O topo da cabecinha começou a aparecer e as Hanas já colocaram os aventais rosa e as luvas. Olhei elas paradas ali e comentei que pareciam uns anjos, que diziam para a Ana forçar na contração e depois aliviar para não romper o períneo, balançando o quadril em seguida pra Pietra voltar pra dentro. E foram várias vezes. Aí a Iara perguntou se eu estava com sede, pensei, e fui tomar água, ai percebi que queria ir no banheiro e estava lá fazendo o número 1 quando a Ana teve uma baita contração e quase que a pequena veio. Saí apressado e elas falaram que quase saiu, depois falando com a Iara a gente riu porque se fosse o número 2 tinha dado merda (kkkk), ia perder o parto da minha filha. Mas voltando. Mais uma contração e a cabeça saiu quase toda, fui espiar e falei pra Ana: “quase vi o rostinho dela.” Aí a Pietra não quis mais entrar. A Ana ficou bem de cócoras e tomou as rédeas. Ficamos assistindo a pitoca sair deslizando (às 00:54 horas de 05/09/2009), deu um mergulho, e a Vânia disse: “pega ela”. A Ana pegou direitinho e trouxe pro colo aquele pedacinho de nós toda coberta de vérnix, uma espécie de super hipogloss natural; aí ela abriu os olhinhos, olhou pra Ana, olhou pra mim, fez um beicinho e soltou o verbo, sem palavras pra descrever esse momento. Eu, 32 anos, filho caçula, contato nenhum com criança, nunca tive muita afinidade e tinha medo de segurar filhos dos outros, ali parado olhando aquele bebezinho lindo, tão frágil. Muita emoção, muitas lágrimas, não vou esquecer nunca esse momento e a cara emocionada das Hanamigas. Ficamos namorando a Pietra um pouco na água, depois a Ana saiu da piscina sozinha super bem, foi dar o primeiro mama, enquanto esperávamos o cordão parar de pulsar e a placenta sair e eu que cortei o cordão umbilical. 

Mais tarde a Rê me deu abraço e disse: “você foi maravilhoso”, e eu até então nem tinha me dado conta da importância da minha participação no parto da Pietra.

“Machismo a parte, descobri que homem também pode parir, e foi fantástico!”
Me responda, onde você contrata um parto particular que te oferece 4 consultas pré-parto em seu domicílio, que começavam as 9:30 da manhã e acabavam 15 pro meio dia tomando um café na maior descontração, com pessoas amáveis, super interessadas na nossa integridade física e mental, dando todo o suporte imaginável? Nós pesquisamos e só encontramos preços abusivos e técnicas evasivas, práticas e rápidas para a equipe médica, mas para mãe e pro bebê nada. Para os defensores da cesária, que não foram poucos nesses 9 meses, só tenho a dizer: “foi parto natural, na água quentinha, em casa e com períneo íntegro.

Nos primeiros exames a Pietra tirou nota máxima, 10, uma criança calma, super esperta, ativa, mas tranquila, gerada e parida com muito amor e informação.
CRÉDITOS FINAIS – Frescura de Pai Babão
Décimo segundo dia (hoje) acordei com uma dor esquisita no umbigo, até pensei: será que tem haver com o umbiguinho da Pietra, acho que não, é viagem! Aí a tarde fomos dar banho nela e o umbiguinho tava quase, quase caindo, e durante o banho descolou com uma cicatrização perfeita. Viagem ou não, sei que rolou!
Vou terminando por aqui meu livro, que parece até um diário de bordo, mas é uma experiência que vale ser contada, e assim, não tem dinheiro no mundo que pague essa vivência.
 “Viva ao parto domiciliar planejado e humanizado”
Charles Storino

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